Repensando o comércio global de resíduos plásticos
Publicado em 25/07/2023

Se você já ouviu falar em economia circular, está ciente de que precisamos nos preocupar com o fim da vida útil dos produtos e materiais que consumimos, afinal, tudo que dispensamos continua a impactar o ambiente em que vivemos.
Uma embalagem, por exemplo, irá trilhar um longo caminho desde a lixeira da nossa casa até a sua disposição final adequada, que pode ser a reciclagem ou o reaproveitamento para outros fins. Eventualmente, esse trajeto envolve caminhões da coleta seletiva, catadores informais, associações, empresas de reciclagem, transportadoras e, até mesmo, o envio para outros países. No caso do plástico, a exportação do material é conhecida como a rede global de comércio de resíduos plásticos. Embora essa ação movimente um alto valor de mercado – em torno US$ 1,2 trilhão – ela causa severos prejuízos aos países receptores, que devem lidar com grandes níveis de poluição e problemas de saúde na população.
O volume das exportações de plásticos cresceu de 218 milhões de toneladas métricas em 2005 para 369 milhões em 2021 (fonte: Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento). No entanto, cada vez menos países estão demonstrando “hospitalidade” para receber esses resíduos. A causa dessa mudança é bem representada pelo exemplo da China que, até 2017, era o maior importador mundial de resíduos plásticos, recebendo uma média de 8 milhões de toneladas de plástico por ano de mais de 90 nações ao redor do mundo (fonte: Earth.org). Mas, em julho daquele ano, o Conselho de Estado da China divulgou um plano para proibir a entrada de lixo estrangeiro, pois os danos ambientais e à saúde causados por fluxos de resíduos contaminados eram visíveis.
Com a saída da China, outros países assumiram a função de receptores globais de resíduos plásticos, como a Malásia, o Vietnã, a Indonésia, as Filipinas e a Tailândia. Mas os efeitos colaterais dessa importação do resíduo não tardaram a aparecer, fazendo com que esses países também tomassem medidas de prevenção. A Tailândia, por exemplo, anunciou a proibição da importação de resíduos plásticos até 2025. Uma decisão muito compreensível, já que são muitos os prejuízos ambientais causados pelo comércio internacional de resíduos plásticos e eles vão além do acúmulo do resíduo em si. É necessário considerar também as emissões de gases do efeito estufa derivadas do transporte, os gases tóxicos eventualmente liberados pela queima do material, a poluição atmosférica, etc. Apenas para transportar os produtos plásticos exportados no mundo em um ano, seriam necessários 18.400.000 caminhões, conforme estimativa da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento.
Isso se dá, pois os plásticos tradicionais – à base de derivados do petróleo – podem ser difíceis de reciclar devido aos aditivos, variabilidade de composição, fragilidade e ao número limitado de vezes que os produtos podem ser reciclados (Brooks, Wang, Jambeck, Science Advances, 2018). Isso faz com que, muitas vezes, o material seja incinerado nos países que o recebem, causando problemas de saúde para a população local e diminuindo drasticamente a qualidade do ar. Com tudo isso em vista, a preocupação latente é: para onde enviaremos todo o resíduo plástico que, a princípio, deve ser reciclado, mas ninguém quer reciclar?
Na ERT, acreditamos que a solução está na mudança de paradigma. De plástico reciclável, para plástico compostável; de exportação, para solução local; de descartável, para renovável; de 500 anos de degradação, para 180 dias de transformação da matéria orgânica. O ciclo precisa fechar, mas isso não irá acontecer se dependermos de uma estrutura global de reciclagem que, como sabemos, é falha. Por isso, apostamos em tecnologia verde e inovações para potencializar a economia circular por meio do bioplástico.
Fontes:
https://ourworldindata.org/plastic-waste-trade
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0959652622039452
https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=4078240
https://www.science.org/doi/10.1126/sciadv.aat0131
https://thediplomat.com/2017/07/china-urgently-bans-foreign-trash-imports/